O fascínio pelas caveiras

Não é de hoje que o Théo tem um fascínio por caveiras. Até bem pouco tempo atrás, ele chamava de “cabeção”. Explico: ele tinha um brinquedo, desses que se vende em padarias com balas dentro, com uma cabeça de caveira que saltava ao apertar um botão.
A cabeça desse brinquedo é, de fato, proporcionalmente grande em relação ao corpo da caveira. Daí a chamar qualquer caveira de cabeção por um bom tempo. O brinquedo quebrou e ele acabou ganhando outro igualzinho. No ano passado, quando eu trabalhei na exposição Em nome dos artistas, mostrei a ele o material educativo da exposição e ele ficou deslumbrado com a imagem da réplica de um crânio em prata, do inglês Damien Hirst (foto). “Mamãe, lá no seu trabalho tem um cabeção, né?”


Este mês, em Embu das Artes, o encanto foi por conta de uma marionete que representa a figura da morte e acende os olhos. Mas é claro que o Théo não sabe disso. Enquanto circulávamos pela praça central de Embu e mesmo no restaurante, parecia chamar muito a atenção das pessoas aquela figura angélica, de cabelos loiros cacheados e olhos azuis, encantada com aquela marionete. Para ele é o Fantasma e ponto final. Algumas vezes precisei levar o boneco junto ao buscar ele na escola. Uma tarde a turma dele estava no parquinho da frente e os amiguinhos fizeram festa ao ver o boneco pela grade na parte de baixo da porta. “Gente, olha quem veio visitar vocês”, disse a professora. Foi uma festa e o Théo se apressou em explicar: É o “meu” fantasma. Sim, porque ele só não fica com o brinquedo na escola para os coleguinhas não pegarem. “Mamãe, cuida do fantasma pra mim?” Teve um dia que cheguei para buscar ele sem o brinquedo. Haja paciência. “Cadê meu fantasma?”, ele perguntou assim que me viu.

Na sexta-feira passada, não levei o Théo na escola e ele me acompanhou em uma “aventura” andando de ônibus por São Paulo. Ele sempre pedia para andar de ônibus e a ocasião pareceu uma boa oportunidade. Foi comigo até o Instituto Tomie Ohtake de ônibus e adorou o passeio. Depois levei ele na Fnac de Pinheiros. Ficamos lá mais de duas horas, na seção de livros infantis. Ele viu personagens conhecidos, como os da série Toy Story, o Peixonauta e o Pinóquio. Gostou de um livro de Piratas só porque um facão de plástico acompanhava a publicação (não gostei desse livro por razões óbvias). Mas o fascínio definitivo veio por conta do livro da série Sons Animados, Assombrações. A cada página, um som “assustador” pode ser acionado. “Olha mamãe, o cabeção”. Ganhou o livro e ainda levou um mascote da livraria, em liquidação, que ele chama de “Jacaré cabeção”. A volta para casa, de ônibus, foi só alegria com os presentes e até o banho de chuva que tomamos foi motivo de risos. Ele até já levou o livro para a escola. “Mamãe, esse os meus amigos não vão conseguir rasgar né?”.
Neste momento, ele assiste pela milésima vez a uma coletânea em DVD, que ele mesmo escolheu, da série Billy e Mandy. Nem preciso dizer que um dos personagens principais é uma caveira, preciso?

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