Este mês, duas experiências com o Théo me fizeram refletir sobre as relações entre arte e consumo, principalmente nos produtos culturais voltados à infância. No dia 11, fomos assistir Gnomeu e Julieta, no Cinemark do Shopping União. A pressão pelo consumo já começa na fila para comprar os ingressos. Fotos enormes de pacotões de pipoca, refrigerantes, chocolates, balas, ficam estrategicamente dispostas para que aqueles que esperam na fila as vejam de longe. Isso, somado aos consumidores que seguiam em direção às salas carregados de guloseimas.
Nem preciso dizer que compramos pipoca e chocolate antes de entrar. Pelo menos de refrigerante o Théo não gosta, ao menos por enquanto, então compramos suco. Não posso deixar de destacar aqui uma vantagem deste cinema, em comparação a outros que ficam dentro de shoppings: a possibilidade de acesso sem precisar passar em frente de muitas lojas. Estacionei em uma entrada próxima das escadas rolantes que chegam praticamente à entrada do cinema, o que não deu ao Théo a chance de se empolgar com nenhuma vitrine antes do nosso programa.
Na hora da saída, sem chance de o Théo topar ir embora. Como ele se comportou muito bem durante todo o filme, resolvi dar uma caminhada com ele pelo shopping. Ele se distraiu com a pista de patinação e pediu uma bolinha daquelas que saem dos expositores em troca de uma moeda de um real. Ele gosta mais da emoção de colocar a moeda, girar a alavanca e pegar a bolinha do que do brinde propriamente dito. Nesse dia, cheguei à conclusão de que não dá pra proteger ele dos apelos do consumo, mas posso mostrar pra ele que não é só adquirindo produtos que se tem satisfação. Pelo menos ele também gostou do filme e da experiência de ir ao cinema.
Mais recentemente, no dia 22, fomos a uma apresentação do palhaço Espirro. Astro pop dos anos 80, o personagem se apresenta semanalmente no Shopping Continental, no projeto Terça-feira é dia de brincadeira. Chegamos cedo e tivemos que passar em frente ao Mc Donalds, onde aqueles brinquedos expostos sempre atraem a atenção do Théo. Comprei um personagem pra ele. Ao menos, é possível comprar o brinquedo sem qualquer comida de plástico acompanhando. Já tinha algumas crianças e acompanhantes sentados junto ao palco onde ocorreria a apresentação. Sentamos um pouco mais longe e logo o show começou. Fiquei chocada com o apelo ao consumo desde o começo, com distribuição de brinquedos, CDs e brindes diversos, como vales-empada para retirar na praça de alimentação. Entendi porque aquelas crianças já estavam lá: não era a primeira vez que assistiam.
Um grupo de mães e avós foi chamado ao palco. Elas tiveram que imitar macacos durante a execução de uma música e o melhor “macaquinho” ganharia mais prêmios. A torcida era grande. Também foram entregues brindes aos papais presentes e alguns brinquedos foram arremessados para as crianças, que eram incentivadas a gritar: “Dá pra mim! Dá pra mim! Dá pra mim!”.
O Théo gostou do palhaço e de seu mascote, e também se espantou e se divertiu com a apresentação do mágico, que foi o convidado da noite. Ele não teve paciência para esperar na fila, no final, para tirar fotos com os personagens, nem ficou frustrado por não ter ganhado nenhum dos brinquedos que foram distribuídos. Depois do show, comeu um croissant e tomou um suco de laranja como um verdadeiro cavalheiro e fomos para casa sem qualquer tipo de escândalo. Fiquei orgulhosíssima pelo comportamento dele, me diverti ao relembrar músicas que fizeram sucesso durante a minha infância, mas honestamente, não pretendo levá-lo novamente àquele show.
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